O texto que se segue é composto por trechos da obra Zen e a Arte de Tiro com Arco (E. Herrigel, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997). Pode ser aplicado a quase tudo na vida mas, aqui, vamos fazer a ligação com a preparação e processo de formação do actor/artista.
«No momento de manter a tensão, ela deve ser concentrada apenas naquilo que precisa de usar; de resto, economize as suas energias, aprenda (com o arco) que, para se atingir algo, não é necessário fazer um movimento gigantesco, mas focalizar o seu objectivo.
O meu mestre deu-me um arco muito rígido. Perguntei porque é que estava a começar a ensinar-me como se eu já fosse um profissional. Ele respondeu: "Aquele que começa com coisas fáceis, fica despreparado para os grandes desafios. É melhor saber logo que tipo de dificuldades vai encontrar no caminho."
Durante muito tempo, eu atirava sem conseguir abrir bem o arco, até que, um dia, o mestre me ensinou um exercício de respiração e tudo se tornou mais fácil. Perguntei porque demorara tanto para me corrigir. Ele respondeu: "Se, desde o início, eu te tivesse ensinado os exercícios respiratórios, acharias que eram desnecessários. Agora vais acreditar naquilo que eu te disse e vais praticar como se fosse realmente importante. Quem sabe educar, age assim."
O momento de soltar a flecha acontece de maneira instintiva, mas, primeiro, é preciso conhecer bem o arco, a flecha e o alvo. Nos desafios da vida, o golpe perfeito também usa a intuição; contudo, só nos podemos esquecer da técnica depois de a dominarmos completamente.
Passados quatro anos, quando eu já era capaz de dominar o arco, o mestre deu-me os parabéns. Eu fiquei contente e disse que já tinha chegado a metade do caminho. "Não", respondeu o mestre. "Para não caíres em armadilhas traiçoeiras, o melhor é considerares como metade do caminho o ponto que atinges depois de percorrer noventa por cento da estrada."»
Nota extra:
Um dos símbolos do budismo é a Flor de Lótus (tentei, mas não consegui inserir aqui uma imagem - voltarei a tentar, mais tarde). A Flor de Lótus representa aquilo que nasce em espaços lamacentos e estagnados, mas que se desenvolve em delicadeza e beleza. É a beleza na lama, a capacidade de transformar a fealdade em beleza.
2 comentários:
Excelente texto!
Dá que pensar (ainda bem é esse o objectivo).
Então, pensa!
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