terça-feira, 30 de outubro de 2007

Observatório do Algarve 29-10-2007











Os madrugadores do Sonho
29-10-2007 8:00:00


Chegam de todos os cantos do Algarve. Levantaram-se às quatro, cinco, seis da manhã. Mas, chegados à escola, recebem uma injecção de energia à prova de sono num curso de actores em Faro. Ainda madrugada, correm atrás de um sonho.





“Quando soube que tinha entrado, senti-me a pessoa mais feliz do planeta”. A frase, pouco comum num jovem que acabou de chegar ao 10º ano apenas porque lá chegou, exprime bem o clima quase eufórico em que vivem os 25 alunos de Artes do Espectáculo da Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro, que este ano estreou aquele plano de estudos.





Desde meados de Setembro que têm aulas práticas de interpretação, movimento e voz, a que se juntam as mais teóricas disciplinas de História e Cultura da Arte, Psicologia e outras, de um tronco mais comum, como Português e Informática.




Em todo o Algarve é o único curso profissional destinado a jovens que acabaram o 9º ano e querem pisar um palco e daí que muitos cheguem de longe para perseguir a sua quimera. De Alte, Quarteira, Albufeira, Vila Real de Santo António. Durante três anos aprenderão com actores, encenadores e outros formadores ligados ao meio artístico as subtilezas da interpretação e do movimento cénico.




A autora da frase acima, Sónia Correia, 20 anos, que jura sentir-se ainda a pessoa mais feliz do planeta, sonha aproveitar a equivalência ao 12º ano para dar o salto até ao Conservatório de Lisboa, mas tem consciência da “despesa que isso daria” aos pais e acaba por travar a ambição. “Talvez só se recebesse uma proposta, sei lá”, hesita, remetendo a decisão para a infinidade de três anos que dura o curso.




Para correr atrás do imenso desejo de ser actriz, Sónia trabalhou seis meses num supermercado da cidade onde vive, Vila Real de Santo António, amealhando o ordenado mensal de 450 euros, e estava disposta a arriscar tudo, chegou a ir a Cascais para se matricular num curso com as mesmas características do que agora frequenta.



Falar com o chapéu




“Já tinha apalavrado um quarto por 200 euros”, explica, não escondendo que as dificuldades da saída cedo se transformaram em revolta: “Porque é que temos que sair do Algarve para ser actores?!”, perguntava ela, numa carta que dirigiu à ACTA em Maio passado à qual nunca esperou que a companhia de teatro algarvia respondesse.




Mas respondeu. E foi aí que a pretendente a actriz soube que o seu sonho não tinha forçosamente que ser perseguido a 300 quilómetros de distância. “Fui a primeira a saber, logo em Junho, e depois fui a primeira a matricular-me, era mesmo isto que eu queria”, vinca a jovem, com um sorriso rasgado.
Durante as primeiras semanas de aulas, Sónia levantava-se todos os dias às quatro da manhã, obrigava o pai a sair de lençóis de propósito para a levar à estação, apanhava o comboio das 5:47, chegava a Faro e ia de “minibus” ou atravessava a cidade a pé para chegar à escola, no fim do bairro da Penha. Só retornava a casa às nove, outra vez noite fechada, para jantar e regressar à cama, sem direito a TV.




“Agora estou temporariamente em casa de uma tia em Faro e levanto-me às 6:30, para sair de casa às 7:30”, afirma Sónia, que nunca vacilou na decisão e jura que há-de ser actriz, “aqui ou em Lisboa”.




César Matoso, 16 anos, fica-se um degrau abaixo na escadaria das convicções: “Sei que quero pisar o palco, isso de certeza. Agora se para ser actor ou cantor, ainda não decidi”, duvida, ele que já participou em festivais juvenis na zona central do Algarve.




Momentos antes, em plena aula de voz, o rapaz de Alte (Loulé) explicava a um chapéu que tinha na mão que “Então, /Bate, bate coração/Louco, louco de ilusão/A idade assim não tem valor”, como se o chapéu fosse um amigo, em plena esplanada, a quem se conta a história engendrada por Carlos Paião.




Trocar a calculadora pelo palco



“Tens que sorrir, mesmo que ninguém esteja a olhar para ti, tem que se perceber que estás a sorrir”, explicava a actriz Patrícia Amaral (Tixa) ao moço de Alte que das primeiras vezes teimava em se concentrar mais na própria voz do que nos meandros da história em forma de canção.




Para estar na escola às 8:30, César tem que se levantar às 6:00 e, ainda noite cerrada, encetar a caminhada que o levará de um dos extremos da aldeia até à estrada nacional, onde apanhará o autocarro para Faro.




“Isto é muitíssimo cansativo”, reconhece o jovem, que confessa que, quando a fadiga ascende, “pondera” se, no fim, valerá a pena. Mas logo ressalva que, depois de umas aulinhas práticas, “nem que fosse o dobro do trabalho”, ainda assim valeria a pena.




Muito apoiado pelos pais, ambos animadores de infância em Alte, César esclarece que, no fim do curso, “gostava de ir e voltar” à capital, para aprender, mas não sabe ainda se terá pernas para o Conservatório. Até porque não sabe se chegará a actor ou, como Paião, contará histórias em forma de cantiga.




Se não estivesse no curso profissional da Pinheiro e Rosa, Iuri Rosa, 18 anos, andaria em administração, na Tomás Cabreira, mas, reconhece, muito menos feliz. Afinal, o curso arrebatou-o a sebentas e calculadoras e aproximou-o do mundo da música em que se mexe nas horas vagas, quando compõe música hip-hop.




“O meu sonho era ir para Lisboa, mas quanto ao Conservatório já não sei”, vacila o rapaz de Estói que acorda às 6:30 para chegar à paragem às 7:00, a tempo de apanhar o autocarro.




Com tão pouco tempo de dormida, reconhece que por vezes lhe dá o sono, sobretudo depois de almoço, mas logo as aulas práticas – as que lhe dizem mais –, estrategicamente distribuídas depois do almoço, se encarregam de o espevitar.




Iniciado este ano em exclusivo na secundária Pinheiro e Rosa, o curso de “Técnico de Artes do Espectáculo” deverá sofrer uma pausa no próximo ano lectivo. Em seu lugar, serão formados técnicos de luz e cenografia.Para já, durante os próximos três anos lectivos, 25 jovens provenientes das várias “margens”, campos e cidades do Algarve, chegam à capital “com um búzio nos olhos claros”, como no poema de Maria Rosa Colaço musicado pelos Trovante.

João Prudêncio

4 comentários:

Black Swan disse...

FORÇA TURMA!!!

Um dia, seremos a grande nova geração de actores.
E eu e o Wilson vamos para a America!!!

Mas até lá....

Sangue|Suor|Lágrimas

Black Swan disse...

E lá estão os Golden Grams semi-mastigados da Denise! xP

Anónimo disse...

tinha k ser o meu pai XD...eu sou uma maina e tal...o nome prudencio e uma makina... enfim, k se ha de fazer...fotos tiradas na aula do teste...estes profs ...:)

Anónimo disse...

olá tichaaaa.... temos que dar os parabens ao SR. João Prudencio pela fantástica publicação.
é verdade que viemos de todos os cantos do algarve com o objectivo de nos tornar-mos grandes actores ou apenas seguir-mos atras de um sonho... ass: cinda e lúcia