sábado, 25 de outubro de 2008

Frederico Garcia Lorca



«Cambaleo» - Homenagem teatral às comédias de Garcia Lorca


«O teatro é um dos mais expressivos e úteis instrumentos para a edificação de um país e é barómetro que assinala a sua ascensão e queda (...). Um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto, está moribundo; da mesma forma, o teatro que não recolhe o pulsar social, o pulsar histórico, o drama das suas gentes e a cor genuína da sua paisagem e do seu espírito, pelo riso ou pelas lágrimas, não merece que se lhe chame teatro, mas sim sala de jogo ou local para fazer essa coisa horrível que se chama matar o tempo.


Frederico Garcia Lorca, citado por José Barata Oliveira, in Didáctica do Teatro (Coimbra, Livraria Almedina, 1979)







(Seguir o link ligado ao título, para uma página com as obras de Garcia Lorca)

domingo, 5 de outubro de 2008

A criação de um papel - primeiras abordagens



Stanislavski, na sua obra A criação de um papel, estuda a criação de papéis específicos, desde a primeira leitura da peça e do desenvolvimento da primeira cena. Neste artigo, ficam algumas propostas, referentes às primeiras abordagens de uma peça.


- uma primeira leitura, livre, onde o actor se deverá guiar pelo prazer e pela intuição (sublinha a importância fundamental das primeiras impressões: os factos que compreendemos gravam-se intuitivamente na nossa memória)


- os factos que não compreendemos ou sentimos ficam a pairar: «Deixam-nos confusos e não conseguimos achar neles nenhuma verdade da realidade viva. Tudo isso interfere com a recepção e absorção das nossas primeiras impressões da peça.»


- para resolvermos este estado de confusão, Stanislavski sugere que façamos a lista dos factos da peça. Exemplo (com base em Sonho de uma noite de Verão, de W. Shakespeare):


Acto I. Cena 1. Atenas. Palácio de Teseu:



  1. Teseu e Hipólita falam alegremente sobre as suas bodas próximas.


  2. Teseu manda Filóstrato dar ordens aos atenienses para que comecem as festividades e celebrações.


  3. Aparecem Egeu, Hérmia, Demétrio e Lisandro.


  4. Egeu quer que Hérmia, sua filha, se case com Demétrio, mas a rapariga está apaixonada por Lisandro e recusa o casamento arranjado pelo pai.


  5. Egeu coloca a questão a Teseu, Duque de Atenas, para que este accione a lei ateniense, que diz que as raparigas que se recusam a aceitar os maridos propostos pelos pais, são condenadas à morte ou encerradas num convento.


  6. Hérmia e Lisandro defendem o seu amor.


  7. Teseu ordena a Hérmia que decida: ou casa com Demétrio, ou é condenada à morte, ou é encerrada num convento. Dá-lhe quatro dias para pensar.


  8. Teseu sai com Egeu e Demétrio.


  9. Hérmia e Lisandro conversam e decidem fugir de Atenas, para a casa de uma tia de Lisandro, que mora longe e de quem Lisandro é o único herdeiro.


  10. Chega Helena, amiga de Hérmia e apaixonada de Demétrio, a quem os amantes revelam os seus planos.


  11. Saem Hérmia e Lisandro.


  12. Helena decide contar tudo a Demétrio, como prova do seu amor por ele e do desamor de Hérmia.

«Todos estes factos, tomados em conjunto, fornecem o tempo presente da peça.»


- mas não pode haver presente, sem passado, nem futuro. O actor deve ter sempre presente o passado e o futuro da personagem que interpreta. «Uma ligação directa do tempo presente de um papel com o seu passado e futuro dá corpo à vida interior desse papel a ser interpretado. Apoiando-se no passado e no futuro do seu papel, o actor poderá apreciar melhor o seu presente.»


- temos, ainda, o contexto social da peça, que deve ser estudado, «não só no próprio texto da peça, como numa variedade de comentários, textos literários, texos históricos referentes ao período, e por aí em diante. Exemplos de estudo para Sonho...:




  • Pesquisar os nomes dos atenienses da peça (de onde vêm?...)


  • Pesquisar as referências populares às fadas e duendes (Titânia, por exemplo, é tida, nalgumas linhas, pela rainha das fadas ou dos deuses, a Mãe Terra geradora dos Titãs...)


  • Pesquisar factos históricos (o que foi o Renascimento? - características literárias, plásticas, arquitectónicas, de vestuário, ideológicas, etc.; referências directas a Atenas e à cultura ateniense; etc., etc.)


  • Etc. (os dados para pesquisa vão surgindo consoante o estudo da peça se vai aprofundando)

Isto é apenas o trabalho inicial da criação de um papel e do estudo de uma peça.


Para tudo deve haver método, apropriação e desenvolvimento de técnicas. Com o tempo e a prática, cada um acaba por desenvolver um método de trabalho próprio, eficaz e adequado às suas características pessoais.


Atenção para não se perder demasiado tempo nestas fases (há sempre o perigo de nos embrenharmos em investigações interessantíssimas, mas que podem acabar por nos afastar do nosso objectivo principal: criar um papel para ser representado. Já vi actores que dedicaram tanto tempo e energia à investigação teórica, que acabaram por saber tudo sobre a peça, mas não chegaram a criar uma personagem verdadeira e credível)!


(Constantin Stanislavski, A criação de um papel, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2007)


A Midsummer Night's Dream (o prazer do texto original)

ACT I

SCENE I. Athens. The palace of THESEUS.


Enter THESEUS, HIPPOLYTA, PHILOSTRATE, and Attendants


THESEUS
Now, fair Hippolyta, our nuptial hour
Draws on apace; four happy days bring in
Another moon: but, O, methinks, how slow
This old moon wanes! she lingers my desires,
Like to a step-dame or a dowager
Long withering out a young man revenue.

HIPPOLYTA
Four days will quickly steep themselves in night;
Four nights will quickly dream away the time;
And then the moon, like to a silver bow
New-bent in heaven, shall behold the night
Of our solemnities.

THESEUS
Go, Philostrate,
Stir up the Athenian youth to merriments;
Awake the pert and nimble spirit of mirth;
Turn melancholy forth to funerals;
The pale companion is not for our pomp.

Exit PHILOSTRATE

Hippolyta, I woo'd thee with my sword,
And won thy love, doing thee injuries;
But I will wed thee in another key,
With pomp, with triumph and with revelling.

Enter EGEUS, HERMIA, LYSANDER, and DEMETRIUS

EGEUS
Happy be Theseus, our renowned duke!

THESEUS
Thanks, good Egeus: what's the news with thee?

EGEUS
Full of vexation come I, with complaint
Against my child, my daughter Hermia.
Stand forth, Demetrius. My noble lord,
This man hath my consent to marry her.
Stand forth, Lysander: and my gracious duke,
This man hath bewitch'd the bosom of my child;
Thou, thou, Lysander, thou hast given her rhymes,
And interchanged love-tokens with my child:
Thou hast by moonlight at her window sung,
With feigning voice verses of feigning love,
And stolen the impression of her fantasy
With bracelets of thy hair, rings, gawds, conceits,
Knacks, trifles, nosegays, sweetmeats, messengers
Of strong prevailment in unharden'd youth:
With cunning hast thou filch'd my daughter's heart,
Turn'd her obedience, which is due to me,
To stubborn harshness: and, my gracious duke,
Be it so she; will not here before your grace
Consent to marry with Demetrius,
I beg the ancient privilege of Athens,
As she is mine, I may dispose of her:
Which shall be either to this gentleman
Or to her death, according to our law
Immediately provided in that case.

...

sábado, 4 de outubro de 2008