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Muito temos falado, nos últimos meses, de Ética no Teatro. Aos alunos foi proposto um trabalho sobre este tema, que se pretendia empírico, fruto da reflexão sobre a sua própria experiência neste curso - consigo próprios, com os colegas, com os professores, com todos os outros. Este tema foi orientado do ponto de vista do actor, profissão para a qual estão a ser preparados.
Mas hoje surgiu uma nova perspectiva deste tema: a Ética do Espectador.
Sim, o actor deve respeitar o espectador, sob variadíssimos pontos de vista. Mas e o espectador?... E quando o espectador é, também ele, actor?...
Caso prático:
Uma turma de alunos deslocou-se ao teatro, para assistir a uma representação de teatro escolar de outra escola, em tempo lectivo, e no âmbito da sua própria formação (falamos de um curso profissional de teatro).
Aquela turma considerou a representação «uma grande seca» (sic), pelo que grande parte dos seus elementos optou por sair a meio. Comentaram, ainda, a «falta de qualidade vocal» e o «desinteresse do tema», referindo que «aquilo era mesmo muito mau».
Quando confrontados com esta situação, pelos professores, justificaram-se, dizendo, entre outras coisas, que preferiram sair, do que dizer aos "actores" que não tinham gostado (houve ainda quem dissesse que saiu porque estava muito desconfortável na sua cadeira).
Questões para reflexão:
- quando assistimos a uma representação de teatro escolar devemos exigir, ou até esperar, dos "actores" uma boa técnica (voz, interpretação, corpo, energia) ou um bom espectáculo?
- o que nos leva a assistir a uma representação de teatro escolar?
- o que devemos esperar?
- o que será um bom espectáculo de teatro escolar?
- até que ponto o desconforto físico nos leva a abandonar um espectáculo a meio?
- devemos sair e ficar calados, ou expressar a nossa opinião?
- em que medida uma opinião sincera é construtiva, nomeadamente no teatro escolar? E como fazê-lo, na prática?
- conseguimos imaginar a mesma situação, mas no sentido inverso (sermos nós os "actores" de uma peça de teatro escolar e ver/ sentir o público a sair da sala)? O que sentiríamos?
E como funciona tudo isto no teatro profissional?:
- o que esperamos de um espectáculo profissional?
- quando assistimos a um espectáculo de teatro profissional (para o qual pagámos bilhete e do qual esperamos determinada qualidade) e nos sentimos defraudados, qual a melhor atitude a tomar?
- que questões nos impedem de termos a mesma atitude perante o teatro escolar e o teatro profissional?
O que acontece quando o espectador se torna actor (e vice-versa)?
Quando estamos a ser formados para determinada profissão, é normal que, no início, perante novos conceitos e práticas, nos tornemos mais exigentes com os outros. O estudante de Linguística passa a corrigir a gramática dos amigos, o estudante de História passa a dar lições sobre eras e património, o estudante de Teatro critica a dicção dos restantes, o estudante de Matemática goza com o cálculo lento dos outros.
É muito importante que sejamos sempre humildes e que percebamos que esses novos conhecimentos que estamos a adquirir são uma ferramenta e que podemos sempre partilhá-los com os outros, que não têm acesso a eles. Cada um de nós tem algo de mais forte. Partilhando essas capacidades, caminhamos para o equilíbrio. Mesmo dentro da mesma profissão - digamos, a de actor - as capacidades distribuem-se: um tem melhor domínio de corpo, outro de voz, outro de teatro de rua, outro de repertório. Se cada um partilhar com os outros os seus pontos fortes, e se cada um souber aceitar essa partilha, o grupo/ trabalho sairá, obviamente, mais enriquecido. Trabalho de equipa é ter essa consciência e saber aceitar/ usar isso.
A isso chama-se generosidade.